Drama Israel - Palestina, recusar o binarismo e a barbárie
- Cyril Regnaud

- 20 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Segue uma tradução em português de um texto do coletivo "Malgré tout" sobre o atual drama da situação em Israel e na Palestina. Fugindo do binarismo dominante, é um olhar que recusa a barbárie e o maniqueísmo.
O original em francês está aqui. Traduzi rapidamente e tenho umas dúvidas: caso haja algo bizarro, entrem em contato para me informar!!
Desde abajo (em espanhol): olhar o mundo “desde abaixo”
Seguindo a iniciativa de nossos amigos zapatistas [1] , nos parece necessário sair da oposição binária entre o « terrorismo do Hamas » e o « terrorismo do Estado de Israel ». Recusamos a posição daquelas e daqueles que se apressam em apoiar um ou outro, em justificar um crime em vez de outro, aprisionados numa lógica binária que olha pro mundo desde o alto. Ao contrário, queremos pensar e olhar o mundo desde « abaixo », desde os povos que sofrem e passam por massacres, aos quais assistimos há duas semanas. Pois não se trata de dois blocos unitários, opostos um ao outro: os povos israelense e palestino são multiplicidades complexas, muitas vezes agenciados entre elas.
Existe uma quantidade extraordinária de projetos comuns, de coletivos contra a ocupação, de movimentos de paz, de times de futebol nos quais crescem juntos crianças das duas comunidades, de escolas alternativas que, no cotidiano, nutrem formas de resistência-criação que explorem novos possíveis dentro de uma realidade sombria e homicida. A lógica da bipolaridade sempre convém a quem observa o mundo desde sua torre de vigia. Ela tem como primeiro efeito de esmagar as multiplicidades resistentes e solidárias, de afoga-las para que as fissuras que conseguiram abrir, num dispositivo de guerra, de destruição e opressão, se fecham o quanto antes.
Como já escrevemos [2], recusamos qualquer lógica extra-situacional baseada numa separação (ela também binária), entre meios e fins: o fim nunca justifica os meios porque está inteiramente contido em cada meio. Portanto, ele nunca pode justificar o esmagamento e o assassinato de civis. Um crime não legitima outro: toda barbárie é de certa maneira uma totalidade a condenar sem relativização possível – tendo em mente que não existem bárbaros nem terroristas, mas apenas atos de barbárie e de terrorismo [3]. Nada nem ninguém pode hierarquizar o valor das vidas de bebês, de crianças e de mulheres, arrancadas durante esses dias dramáticos.
Por isso fazemos parte daquelas e daqueles que se recusam a fazer castelos no ar, ou planos abstratos, lançando-se em análises geopolíticas duvidosas (sabendo que, além disso, existem muitos elementos que não conhecemos). Mais do que concentrar-se sobre as estratégias suspeitas e cínicas de dois (ou três, quatro ?) campos, preferimos estar do lado das pessoas que sofrem dessas mesmas estratégias. Para eles vão a nossa solidariedade e fraternidade.
[1] https://enlacezapatista.ezln.org.mx/2023/10/16/de-siembras-y-cosechas/
[2] https://collectifmalgretout.net/2023/10/09/le-terrorisme-est-toujours-reactionnaire/
[3] Como já expliquemos durante o último seminário do coletivo : https://www.youtube.com/watch?v=qCD6SWFzFSk
Miguel Benasayag, Bastien Cany, Teodoro Cohen, Angélique Del Rey, Raul Zibechi
(Coletivo)




Comentários